Os ·ltimos anos de Rembrandt estπo salpicados de um bom n·mero de auto-retratos. Esta tela foi realizada em 1669, ano de seu falecimento. Meio corpo do personagem emerge da penumbra vazia que o envolve. Como em outras ocasi⌡es, ele olha diretamente para o espectador. Seus olhos aparecem levemente fechados, num gesto cansado, com um certo sarcasmo. O artista continua insistindo atΘ o final de sua vida numa busca interior. A elegΓncia varonil de seus primeiros retratos torna-se um aspecto algo descuidado. O luxo foi substituφdo pela austera indumentßria de trabalho. O cruzamento de suas mπos confere α representaτπo um ar equilibrado e sereno, que contrasta com o gesto que contrai a expressπo do rosto. ContemporΓneos e bi≤grafos do mestre ressaltam como era difφcil seu carßter. A tese de que ele tinha uma personalidade dura e impetuosa seria refutada por certo setor da historiografia a partir de imagens como esta.
De qualquer forma, a introspecτπo psicol≤gica caracteriza uma vez mais outra das m·ltiplas imagens pertencentes ao rico legado plßstico do holandΩs.
AN┴LISE T╔CNICA E ESTIL═STICA
A composiτπo do quadro Θ bastante simples. O pintor se retrata de meio corpo. Seu rosto gira para o espectador, rompendo o eixo de meio perfil que segue o resto do corpo. A atitude geral do modelo oferece uma construτπo iconogrßfica muito similar a outro auto-retrato conservado em Washington. Do ponto de vista tΘcnico, o autor realiza um notßvel exercφcio de sφntese. Ele prescinde da minuciosidade e do acess≤rio. A neutralidade de um fundo indefinφvel serve para exaltar a expressπo concentrada do rosto. A gama cromßtica Θ bastante austera e reduzida, participando do espφrito da obra. Ocres e vermelhos sπo matizados por uma luz dourada que incide sobre a cabeτa do protagonista a modo de uma ßurea envolvente. A frieza de tom de seus retratos juvenis Θ substituφda aqui pela calidez cromßtica. Mπos e rosto sπo destacados da escuridπo dominante, mediante a iluminaτπo artificial e expressiva.
INTERPRETA╟├O
A obra exemplifica perfeitamente o estagio final da vida e da trajet≤ria do mestre. Seu constante desejo de captar a realidade estß aqui, numa representaτπo de si mesmo que sobressai por sua expressiva sinceridade. A captaτπo psicol≤gica do personagem se traduz num gesto inquisidor e um pouco desiludido. Uma atmosfera de vazio parece envolver o pintor, isolando-o do exterior. Assim se acentua tambΘm a nota introspectiva que ele juntara a bom n·mero de seus personagens retratados. A simplicidade e a austeridade que ele ostenta nπo tem nada que ver com a imagem luxuosa e varonil que ele gostava na sua juventude. A gama cromßtica oferece um tratamento tendente a sugerir um ambiente φntimo e recolhido. Seus grandes olhos fixos para fora do espaτo do quadro, proporcionam uma expressiva sensaτπo de imediatez. Os Γnimos que refletem os ·ltimos auto-retratos oferecem uma personalidade bastante acorde com a figura de Goya, submergido, como ele, numa progressiva introspecτπo pessoal.
